quarta-feira, 16 de agosto de 2017

FLORESTAN FERNANDES: UM PENSAMENTO E AÇÃO PARA ALÉM DO CAPITAL ECONÔMICO (1920-1995)

Cênio Back Weyh – Dr. em Educação - Docente da URI – Santo Ângelo;
        Simone Zientarski e Maickelly Backes de Castro, bolsistas de Inic. Científica,
acadêmicas do 6° semestre da Pedagogia, na URI- Santo Angelo.

Em todos os tempos é indispensável, mas especialmente no contexto atual, conhecermos o legado deixado por pensadores/pesquisadores comprometidos com temas sociais relevantes e que tem muito a nos dizer sobre como pode ser (re) pensada a sociedade contemporânea, bem como compreender os dilemas vivenciados no campo da educação. Dentre estes, se destaca o brasileiro Florestan Fernandes cuja obra merece ser analisada e compreendida especialmente pelas gerações mais jovens.
            Sociólogo, militante, educador e político, Fernandes nasceu em São Paulo, no dia 22 de julho de 1920. Sua origem humilde e o fato de ter de trabalhar desde a infância deixaram marcas fortes em sua vida, o que motivou/inspirou suas lutas político-sociais em favor das minorias.
Na busca de ideários de justiça social e igualdade de oportunidades, Fernandes militou em defesa das classes empobrecidas. Considerado o pai da sociologia crítica no Brasil, empenhou-se no (re) pensar, problematizar e publicar temas relevantes para as questões sociais emergentes da época como: a escravidão; os negros; os indígenas; os espaços urbanos; a desigualdade social. Enquanto esteve no parlamento (deputado federal) destacou-se pela defesa de projeto focados na educação pública laica e gratuita para o povo brasileiro.
Nessa perspectiva, atentava para a estreita relação entre educação e política (não politicagem), afirmando que o ato educativo sempre terá uma intencionalidade, firmado em um interesse (podendo ser em prol dos menos favorecidos ou dos privilegiados), portanto, o ato de educar é um ato político. Sendo assim, enquanto docente da USP, entendia que a universidade tinha uma responsabilidade político-social fundamental na construção da nação brasileira a partir de princípios democráticos. Se a universidade não pensa o país, o Estado, a nação brasileira, quem o fará? O pensamento crítico de Fernandes focado na educação superior está registrado em livros, entre os quais destacamos: A universidade brasileira: reforma ou revolução? (1979); A questão da USP (1984); O desafio educacional (1989).
Para Florestan Fernandes os professores precisam tomar consciência da politicidade do ato educativo na ação docente, perceber que podem fazer da educação um instrumento de transformação social (1959). A obra do sociólogo como um todo afirma a importância da democracia como valor fundante para a construção de sociedades menos desiguais. Assim, a educação e a instituição educativa tornam-se mediações para um novo horizonte humanista civilizatório.
Neste contexto, a educação sempre foi e continuará na mira dos interesses no mundo dos negócios. Para Fernandes, a proliferação das ditaduras militares na América Latina entre os anos de 1960 e 1980 significou uma nova etapa de expansão dos interesses imperialistas. Essa realidade parece se repetir no momento atual. Primeiro veio a face econômica (limite de gastos públicos; cortes de verbas na área da educação e da pesquisa) e depois era necessário viabilizar a face política ([LF1] golpe e golpe dentro do próprio golpe (financiamento privado e uso de recursos públicos para comprar lideranças políticas em favor de causas particulares e não compatíveis com o serviço e interesse público), e se ainda fosse necessário, recorria-se à força militar. As resistências (ao projeto imperialista) eram tratadas como “inimigos da pátria”. A repressão atingiu as universidades para não permitir o livre pensar. Apenas permitia-se o que havia sido pensado pelos interesses dominantes. Por defender os ideais socialistas Florestan foi denunciado e preso no processo de golpe militar no pós 1964.
Para destacar o significado de Fernandes para a construção do pensamento crítico sobre a realidade social é fundamental recordar o que pontua a professora Maria Rosa Abreu (in Memória Viva da Educação Brasileira - 1991). O sociólogo inscreve-se ao lado dos mais lúcidos espíritos que a humanidade já teve e que se destacaram pela trajetória longa e difícil na busca da libertação do homem da ignorância e desta ascender ao conhecimento.
Ao longo de sua vida profissional e política, Florestan não se deixou levar por discursos e práticas neoliberais em defesa da acumulação de poderes e riquezas. Ao contrário, denunciava com firmeza os privilégios acumulados das elites burguesas. Sempre é bom reforçar que este eminente intelectual orgânico pautou sua vida pela honestidade e rigorosidade no fazer acadêmica e enquanto homem público jamais foi visto tramando contra os interesses do povo brasileiro. Os valores e princípios defendidos por Fernandes para a sociedade brasileira e Latino Americana estavam profundamente comprometidos com a justiça social.
Já se passaram 22 anos da morte de Florestan Fernandes (10 de agosto de 1995), mas o seu legado de luta por uma educação pública, gratuita e laica de qualidade, a luta por uma sociedade mais justa e igualitária, permanecem muito vivas. No momento atual em que vemos, com profunda tristeza, a destruição dos direitos sociais, conquistados a duras penas pelos movimentos sociais, é necessário buscar forças e iluminação em pensadores que lutaram a vida toda por um mundo mais humano e feliz sem exclusão e privilégios.
Referências
FERNANDES, Florestan. O Estado de São Paulo, São Paulo. Educação e Democracia. 14 fev. 1959, p.1-2.
WEYH, Cênio Back. Florestan Fernandes: a sociologia crítica aplicada à educação. In Fontes Pedagógicas latino-americana: uma antologia. Danilo Romeu Streck (Org.). – Belo Horizonte: Autêntica, 2010.

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