Nem sempre estamos preparados para as situações de nossos dias. Nem para situações boas, imagine as ruins. O começo de minha vida foi uma verdadeira surpresa! Papai e mamãe não faziam ideia que estava eu a caminho.
Surpresa quando nasci, quando cai aos quatro anos com a boca na escada. E depois, aos sete, quando a curiosidade vai parar no hospital. Afinal, o que procurava eu embaixo da placa da moto da vizinha? Lá se foram 13 pontos na cabeça. Quanta aventura, e como dizia o pai: “- quanta arte!”.
Fui crescendo e aos poucos dando mais e mais surpresas. Quando consegui meu primeiro emprego, que alegria! Que conquista! Conquista esta que com o tempo foi ganhando reconhecimento. Com esse reconhecimento, lá veio outra surpresa! Gerenciar uma das lojas da Rede Amiga, o que significava morar em outra cidade, sair de casa e começar a “tocar a vida”. Lá estava eu, tocando a vida. Como morar longe de casa dá saudade, acabava por visitar minha família aos finais de semana. Todos eles com longos passeios de ônibus, mas todos tranquilos, até que veio outra surpresa! E se bem que essa última não foi das melhores. Qual pai e que mãe estão preparados para atender um telefonema de um hospital por volta das 23h e receber um chamado “- Solicita-se com urgência os familiares de Ariane Pazze no Hospital Vida e Saúde?”
Um choque. Sem informações adicionais. Somente um chamado. Era uma emergência. Por conta de um acidente que fui envolvida há exatamente QUATRO ANOS. O acidente aconteceu quando trafegava na ERS-344, sentido Santa Rosa, em uma moto, para posteriormente pegar um ônibus de volta a cidade que trabalhava, Porto Xavier. Foi então, que por volta das 22h e 20min do domingo, um caminhão bi trem de transporte de leite, que vinha no sentido oposto, acabou abalroando a moto que pilotava.
Caída no chão sem dores, acordei não sabendo o que acontecia, até que gritos de apavoramento vindos da direção do caminhão me fizeram perceber que era um acidente, e o pior que era comigo! Enquanto aguardava o socorro, muitas pessoas pararam, e uma delas tocando minha fronte, perguntou com uma voz muito suave: “-Você aceita o Senhor Jesus Cristo como Teu único Salvador?”. Respondi “-sim”, e a voz complementou: "-Então você será salva!”.
A situação toda era grave. Cheguei ao hospital com uns 5% de sangue. Fui encaminhada ao bloco cirúrgico. Enquanto isso, minha mãezona, chegava na unidade de saúde e sem saber o que havia acontecido, saiu um dos médicos de dentro do bloco cirúrgico: “-Onde estão os parentes da menina? Estamos perdendo ela! Onde estão?!”
Que surpresa outra vez! Mamãe deu um passo à frente apresentando-se como tal, e ele explicou: “-o acidente foi muito violento, a menina, teve lacerações no braço e perna esquerdas, precisamos da autorização para amputar”.
Para evitar que isso acontecesse, a mãe queria levar pra outro hospital, com maiores recursos. E o médico com muita precisão disse com todas as letras: “-se ela chegar na porta desse hospital, ela morre! Precisamos cortar agora, ou ela morre!” E assim foi feito. Com muita coragem, ela autorizou a amputação. Depois da longa cirurgia, fui fazer um passeio na UTI do hospital, passeio esse que durou um meio mês. Ao acordar, já na dona UTI, ao meu lado direito estava a mãe, e ao esquerdo uma enfermeira. Olhando pra ela, a primeira coisa que perguntei: “-onde ‘tá’ minha perna??!” Obtive como resposta, um entreolhar da enfermeira pra mãe e da mãe pra enfermeira. Depois disso, um longo choro desesperado tomou conta de mim. O que eu não conseguia entender era que de repente eu, que tinha tudo em ordem, de um segundo pra outro, não tinha mais.
Os dias passavam e eu ali, parecia que só o que eu sabia fazer era chorar pensando no que iria fazer da minha vida. Se o mundo já tem tantas impossibilidades para aqueles que têm os dois braços e as duas pernas e uma cabeça inteira, o que sobrava pra mim??!
Depois de várias batalhas contra infecções e instabilidade da pressão arterial, saí do hospital. Já me contava mais feliz, pois o tempo que pensava, dei conta de que as impossibilidades que a vida me traria, não seria possível passar por elas tão somente se EU não quisesse. Travei meus objetivos à minha reabilitação. Em menos de um ano, já estava fazendo fisioterapias. Durante este tempo, o apoio da família e dos amigos foram como meu trampolim. Mal esperava pra que mais uma vez pudesse andar. Coloquei as próteses e determinei a mim mesma, que em pouco tempo teria de soltar as muletas. Hoje, recuperada e andando novamente, digo que #Deus deu-me outra oportunidade. Ele esteve e está comigo a cada suspiro. Não é fácil falar sobre isso, mas sei que tem muita coisa boa me esperando.
Aprender a #RECOMEÇAR, superar minhas próprias limitações dia a dia, me virar com apenas uma mão, conviver socialmente, caminhar com uma prótese, iniciar a faculdade. Hoje passados sete anos, percebo quão maravilhosa a vida tem sido comigo. Logo no inicio de todos esses acontecimentos, não imaginava que tão rápido seria minha reabilitação. Sequer imaginava usar a tão sonhada C-LEG, que por muito tempo fora um sonho distante e hoje a uso há 4anos.
Sonhar é uma das maiores dádivas do ser humano, é Deus quem realiza conforme a vontade Dele. Sonhe os sonhos Dele!
Nunca se permita pensar que você não é capaz de algo. Se tiveres um objetivo, tem de correr atrás dele. Aqueles que te apoiam, vão aparecer e aqueles que te julgam e puxam pra trás também. Saiba sugar as coisas boas de cada situação. Há sempre algo a aprender. Porque a vida é uma eterna surpresa! Aproveite as suas.
Um dia de cada vez. Porque é preciso saber apreciar a paisagem.
Não há no mundo o que pague uma segunda chance. Muitas pessoas não a terão. Então não desperdice a sua primeira.
Fonte: Ahrii Pazze
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