sexta-feira, 2 de agosto de 2019

Na 5ª tentativa, Kelly conseguiu a CNH categoria B. Se milhares de pessoas conseguem, qual é a diferença?

Ela é natural de Dr Maurício Cardoso (RS).
Ela trabalha como telefonista na URI Santo Ângelo e tem 31 anos.
Após a conclusão do Ensino Médio, continuou estudos, concluindo o Técnico em Informática e a graduação superior em Gestão de RH.
Até aqui, nada demais.
Milhares de pessoas têm 31 anos, trabalham como telefonista e/ou estudaram.
Acontece que muito poucas, como Kelly Carine Herbstrith, são cadeirantes porque nasceram com mielomeningoncele Trata-se de uma malformação congênita da coluna vertebral em que as meninges, a medula e as raízes nervosas estão expostas.
É o defeito do tubo neural mais comum, ocorrendo entre 1 a 10 a cada 1000 nascimentos.
E muito poucas, também, apesar das limitações físicas, não se sentiram impedidas de sonhar e correr atrás de seus sonhos. “Eu já realizei vários sonhos na vida. Alguns, até achava impossíveis. Eu fui conhecer golfinho e boto e em uma viagem para a praia, fiz um passeio de barco”.
“Hoje, meu objetivo é crescer profissionalmente, ter estabilidade e poder oferecer uma vida melhor para minha mãe, que já trabalhou tanto por mim e acho que está na hora de retribuir”.

LAZER E ACESSIBILIDADE

Estar com sua mãe, brincar com seu “poodle”, fazer artesanato e passear são as atividades de lazer preferidas de Kelly. “Nas férias, adoro ir à praia e visitar minhas madrinhas e tios, que residem na Argentina”.
Com pleno conhecimento de causa, Kelly avalia a acessibilidade física em Santo Ângelo: “as calçadas estão precárias; algumas lojas oferecem facilidade, mas seguido me deparo com degraus na entrada. Os bancos que frequento são todos acessíveis e quando preciso algo do 2º andar, uma pessoa desce para me atender. Situação bem chata que vivencio, é encontrar carros estacionados na frente das rampas”.
Em relação ao câmpus da URI, “logo que comecei a trabalhar o pessoal do Núcleo de Acessibilidade conversou e adaptou tudo o que precisava, mas quando ingressei já havia bastante facilidade de locomoção”.

MAIS UM SONHO... POSSÍVEL

Há dois anos, brotou um novo sonho, quando Kelly se questionou: “Moramos só nós duas, e a mãe não dirige. O que eu estou fazendo para ajudar?”.
Decidiu, então, correr atrás de mais um objetivo: fazer a Carteira de Habilitação categoria B.
“Dei entrada no processo para a CNH, fiz a parte teórica e a prática, enquanto o CFC encaminhava o carro adaptado. Demorou um pouco, mas veio o carro. Fiz as aulas práticas e fui para a prova. Foram várias tentativas, foi uma época de muito nervosismo e foi esse nervosismo que me impedia de ser aprovada. Entre uma reprovação e outra eu fazia duas ou três aulas para passar o susto e encarava a prova novamente. Enfim, na quinta tentativa chegou o tão sonhado dia. Passei na baliza e passei na rua também. Foi um momento de muita emoção, quando o avaliador do DETRAN falou: Aprovada. Fiquei até sem reação”.
Kelly deixa uma dica para quem está fazendo ou pretende fazer a CNH.
E também para quem sonha e às vezes acredita que vai continuar só sonhando: “Não desista, mesmo que canse, mesmo que possa parecer impossível. Uma hora chega a nossa vez”.

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