terça-feira, 7 de fevereiro de 2017

Comunidade Quilombola Corrêa em Giruá vive em situação de abandono

A Comunidade Quilombola Corrêa, em Giruá, foi objeto de estudo do Trabalho de Conclusão de Curso (TCC) dos acadêmicos Diego Luis e Maikol André Ruaro, do curso de Agronomia da Faculdade Três de Maio (SETREM).  Os acadêmicos buscaram caracterizar a produção agropecuária desta comunidade quilombola, que é reconhecida legalmente, verificando a importância de políticas públicas para essa produção. O resultado do estudo deixou os acadêmicos surpresos. O trabalho foi orientado pela docente e doutora Cléia Dos Santos Moraes e a banca de avaliação composta pelos docentes, mestre e coordenador do curso de Agronomia Marcos Garrafa e pela doutora Letícia dos Santos Holbig Harter.

A Quilombola está localizada no Distrito de São Paulo das Tunas, no interior de Giruá/RS, a uma distância de 25 km da cidade e em torno de 15 km de Santa Rosa. Lá residem nove pessoas pertencentes a seis famílias que dividem a área de seis hectares. O estudo apurou que as famílias demonstraram não ter mais condições para a implantação de atividades geradoras de renda na comunidade, pois o envelhecimento dos seus moradores não permite trabalhos penosos. “Por outro lado, todas as famílias demonstraram completo desinteresse em abandonar ou vender a área. Os cultivos desenvolvidos são de diversos alimentos, como milho, feijão, amendoim, mandioca, batata, abóbora, cana-de-açúcar, hortaliças, frutas e também erva-mate”, pondera Maikol.

As atividades desenvolvidas são, na maioria, de forma coletiva, e há famílias que desenvolvem algumas atividades de forma individual. Os cultivos são desenvolvidos de forma tradicional e com tração animal. Segundo Diego, outro fator importante é que, embora existam diversas políticas públicas específicas para públicos remanescentes nos quilombolas, essas políticas não são acessadas pelas famílias, o que talvez ocorra por falta de conhecimento. Ele conta que as atividades agropecuárias desenvolvidas são basicamente voltadas para a subsistência das famílias, sem apoio de políticas públicas para o apoio na comercialização ou agregação de valor. A maior renda da comunidade é oriunda da aposentadoria, demonstrando o êxodo da juventude e o envelhecimento das pessoas da comunidade.

Políticas públicas

O trabalho concluiu que, embora a Comunidade tenha alcançado o reconhecimento como remanescentes quilombolas, os moradores vivem em uma situação lamentável de exclusão encontrando-se em abandono pelas autoridades do município, já que não recebem nenhum tipo de auxílio. Maikol e Diego comentam que, embora a comunidade tenha o reconhecimento como quilombo, não consegue acessar as políticas públicas e os moradores não são assistidos por instituições que podem colaborar com a melhoria de suas condições de moradia e de vida. “Dessa forma, a Comunidade Quilombola Corrêa encontra-se em situação de fragilidade quanto ao apoio por parte de autoridades do município e demais instituições. Outra conclusão que se chega, a partir dos relatos, é que as famílias não buscam auxílio para a execução de uma atividade que lhes possa trazer renda, sob a justificativa da elevada idade dos moradores, o que talvez ocorra, por pouca informação sobre alternativas de atividades, mas essa situação também os fragiliza diante das autoridades. Nesse sentido, ressalta-se que suas reivindicações junto ao poder público se resumem a ajuda na forma de alimentação ou financeira”, explica Maikol.

Os acadêmicos enfatizam que a pesquisa visa contribuir para a revelação desses dados e pela divulgação da necessidade de novas pesquisas, em diversas áreas do conhecimento, que possam buscar alternativas para que essas famílias possam sair da situação em que se encontram de pobreza e exclusão social, na busca por acesso à direitos e políticas públicas que lhes possam garantir a certeza de que fazem parte de forma integral da sociedade brasileira. “Sem que haja ações de acordo com a realidade encontrada atualmente, se pode chegar a uma inadequada conclusão de que a exclusão social e racial que afligiu o Brasil por muitos séculos e tornou algumas populações ‘invisíveis’ aos olhos da população e das instâncias de poder público, ainda está presente e bem perto da gente”, conclui Diego.
Fonte: Assessoria de Comunicação SETREM

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